"Nem todos estão à vontade com a ideia de que a política é um vício. Mas é. Eles são viciados e mentem e enganam e roubam como fazem todos os junkies." - Hunter Stockton Thompson

quinta-feira, 24 de março de 2011

A demissão de José Sócrates


Sócrates demitiu-se, o Governo caiu (embora se mantenha de uma forma provisória) e... avançamos para eleições em Maio ou Junho! E entretanto? Entretanto os mercados contraem-se e revoltam-se, os juros sobem ainda mais em flecha, o sufoco aumenta com o apertar das medidas de austeridade, a figura espectral do FMI ganha maior dimensão, expressão ou relevo! Bom... para já é manter a calma e frieza necessárias, não entrando em histerismos colectivos. Não nos podemos deixar dominar pela dúvida e pela incerteza. Mas, confesso que estou bastante céptico e pessimista quanto ao futuro a curto e a médio prazo em Portugal. Se este Governo já não era solução para o País, fico assustado quando surge uma hipótese bastante concreta de ver um neo-liberal sedento, no poder, tendo como rapaz de companhia um demagogo e populista inflamado.
Ontem, no discurso de demissão de José Sócrates, achei pouco elegante o primeiro-ministro tentar desresponsabilizar-se da crise política, ao apontar o dedo ao principal partido da oposição, como sendo o (uníco) agente que desencadeou a mesma. E quem originou essa mesma crise política? Sócrates e o seu Governo. Claro que, com a anuência e a conivência do PSD! São co-réus por incompetência e irresponsabilidade, co-réus pelo o actual estado da nação. Mas as verdadeiras origens da actual crise (não só política), remontam aos tempos em que a CEE (actual UE) abriu as torneiras dos fundos comunitários, e esses mesmos fundos foram geridos por uma incompetência atroz e contínua. Quando as torneiras deixaram de pingar dinheiro e os buracos se começaram a destapar... Eis a crise em todo o seu esplendor! Nos sucessivos governos, uns ignoraram-na por estupidez e por falta de sentido de responsabilidade, outros tentaram abafá-la por conveniências, outros ainda, evitavam-na com medo, por não terem coragem nem possuirem inteligência para a enfrentar. Todos recorrendo a expedientes e a malabarismos pouco claros, até que a acentuaram e a agravaram. Usaram-na, servindo-se dela como se servindo duma prostituta, largando-a depois como herança para os próximos. Depois, houve quem ainda quisesse remediar a coisa e, para tapar as crateras da incompetência, da ignorância e da corrupção, nos brindasse com mais medidas impopulares, planos de austeridade, PEC´s!... Agora, só nos resta mesmo recorrer a outro tipo de fundos. E pagá-los bem com o corpinho!

2 comentários:

joaopft disse...

O país não tem como pagar, pois tem o aparelho produtivo gravemente doente. Infelizmente, dez anos de austeridade nada ajudaram. Também a competição dos europeus do leste e da Turquia (salários mais baixos ainda) não ajuda. Que fazer? Lamento ter que o dizer, mas vamos ter que pensar muito bem na viabilidade do nosso país, e se ela é possível no quadro da moeda única e da própria UE. É evidente que precisamos de algumas medidas proteccionistas; mas isso choca com a ideologia dominante no mundo de hoje. Que fazer? Se nada fizermos, a solução tornar-se-á tão necessariamente premente, que ninguém a poderá travar (nem os "mercados"). Quando a juventude entra em desespero, as coisas acontecem a velocidade vertiginosa...

vox disse...

Nada ajudou: Os super-salários dos gestores das empresas públicas, as reformas douradas de outros, a acumulação de cargos, etc, etc... Podiamos aqui estar uma noite inteira a enumerar as mil e uma razões do antigo/actual e futuro estado do País. É lamentável aos portugueses fugir-lhes o pézinho para trilhos desviantes. É genético! Temos que aprender a amadurecer como povo, como sociedade. Não existem muitas boas referências (e as que existem fogem lá para fora, fartas disto aqui!) ou bons exemplos para a sociedade, para os jovens que serão o futuro! As "referências" hoje em dia, são lhes apresentadas ou servidas pela TV! E não me venham com a desculpa de que são outros tempos, outras gerações!